Um amor que dura pra sempre

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Artesanato de Antonio de Castro 15 críticas

Eu só queria um amor desses que duram pra sempre. Fui à procura dele, fugindo dos amores que são diferentes. Aqueles que são falsos ou superficiais, ou impossíveis e inacessíveis, porque essa palavra diz muito.

Dei de cara com um monte de coisas, aceitei umas e me arrependi. E como sempre me fiz de vítima. Esse parece ser meu papel favorito. Em qualquer teste eu só disputo isso. Não ser o culpado e sim o coitado.

Passei por várias ruas e por várias cidades até cair no poço daqui da frente da nossa casa. O poço era ridículo de tão raso e eu, ridículo, de tão dramático. Chorei durante semanas até tomar coragem e seguir a diante. A busca pelo amor que dura pra sempre.

Dessa vez pareceu mais fácil. Não durou nem uma semana e o tal potencial amor estava por lá. De perna torta, cabeça grande e olhos esbugalhados. Não bebia, não comia e fazia piadas sem-graça. Mas a vontade de senso de humor já era melhor do que sua total ausência. Já havia provado desse gosto e não era bom.

Esse amor me iludiu. Ou talvez eu mesmo tenha me iludido. Eu ficava ligando pra saber dele, se ele acordara bem, se lembrara de lavar o rosto e escovar os dentes antes de sair de casa. Mas eu nunca estive mesmo preocupado com ele. Era só pra ele não esquecer de mim.

Eu tenho dessas coisas, sabe? É só pra não esquecerem de mim, é só pra gostarem de mim, é só pra transarem comigo, é só pra que me odeiem. Eu faço de tudo. Eu ligo, finjo ser ciumento. Finjo ser infantil e finjo ser maduro. Ser maduro é mais difícil. Talvez porque eu seja infantil.

Ou isso é só conseqüência da constante ausência do bendito amor que dura pra sempre. E da minha bendita insistência em achá-lo. Achar um amor que dura pra sempre num amor de um mês. Mas me dizem que não é uma questão matemática. Que é uma questão pessoal.

Nunca fui bom com questões pessoais. Por isso eu tô sozinho. Por isso eu sou ninguém, sou um nickname. E quando me dizem isso, sei que é algo que só eu posso resolver e deixo de ser a vítima. Isso me tira do sério. Perder meu papel. Aquele que eu sempre tive a arrogância de achar que interpreto tão bem.

Hoje eu perdi um amor de um mês. Conseqüentemente, uma busca de alguns outros. Meses. E quando a busca parece inútil, a falta dos amores superficiais atinge com toda a força do mundo.

Tá triste, grande e sem sentido.

Me aceitem. Voltei.

Ouvindo: Amor até o fim – Elis Regina

Desabafo

domingo, 25 de outubro de 2009
Artesanato de Antonio de Castro 10 críticas



Me dói uma dor aqui,
Me dói uma dor pra sempre.
Até eu já cansei de mencioná-la.
Mas ela me dói tanto... tanto.

Eu não sei tirá-la de mim,
Nem fazê-la parar,
Quem sabe diminuir?
Não, eu não sei.

Me dói uma dor que insiste,
Me dói uma dor que mata.

Sex-appeal

segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Artesanato de Antonio de Castro 12 críticas


Não sei por que mas me sentia bem hoje, quando saí de casa. Minha calça não estava apertada, a camiseta pólo não marcava a gordura na área da barriga, calçava o tênis que eu mais gostava e o sol estava lindo.

A sensação era de atração, sabe? Que eu atraía os olhares de todas as pessoas, que eu estava bonito. Tão bonito quanto confortável. Eu estava confortável com a imagem que eu ostentava hoje pela manhã.

Na faculdade, os comentários confirmaram. Todos reparavam em algo de novo em mim, algo que eu não sabia o que era, mas que eu também percebera no momento em que terminei de me arrumar. Elogiaram minha roupa, alguns o meu progresso com a dieta, outros a minha pele, que aos poucos melhorava.

Meu ego ia inflando, do mesmo jeito que as horas do dia iam passando. A cada pessoa que eu encontrava, um comentário novo, que me alegrava mais e fazia eu me sentir mais confiante. Agora eu fico pensando pra quê preciso de confiança. Eu não preciso de confiança em nada porque não estou tentando nada.

Mas eu estava.

Mais um menino da faculdade, mais um que eu descobri ser gay, através do meu amigo-cheio-de-sex-appeal. Eu não tenho sex-appeal. Definitivamente. Isso me entristece, gostaria de ter sex-appeal, sentir que sou atraente. E, sinceramente, arrisco a dizer que isso não tem nada a ver com gordura ou magreza. É como você se porta. E eu me porto como uma criança. Nem um pouco sexy. Nem um pouco atraente.

Esse menino me olhava. E eu achei que algo aconteceria ali. Ele é da minha turma de Álgebra Linear. Ele tem Twitter. Eu decidi seguir ele. Mas eu nunca troquei uma palavra com ele. Sim, isso é típico de mim. Se interessar por alguém que você não conhece é algo que eu diria com facilidade que eu poderia fazer. E mais uma vez eu fiz.

Ele não me seguiu no Twitter. Eu nem liguei pra isso. Hoje quando ele entrou na sala, ele me olhou de novo. Com olhos de quem lembra “Ah, é, você decidiu me seguir, né?”. Eu retribuí o olhar. Imaginando na minha mente fértil que assim nascia uma relação. Essas relações só existem na minha mente.

Mas eu estava bonito. Ou me sentia bonito. Era o momento perfeito para algo acontecer. Era o dia perfeito. Se todo mundo percebeu e comentou, ele que me encarava há dias também havia de ter notado.

Quando a aula acabou, ele saiu, eu só vi que ele foi beber água. Eu queria fazer exposição da minha figura. Me deu uma sede do nada. Mas quando cheguei na água, encontrei ele com meu amigo-cheio-de-sex-appeal. E todo o sex-appeal que eu não tenho.


Eu mais uma vez estava sobrando. Sex-appeal mais uma vez venceu. Relações não existem. O que existe é o sexo casual baseado na quantidade de sex-appeal que você tem. Eu não tenho sex-appeal algum.

Eu só quis ir embora. E eu fui. Eu peguei uma chuva horrível que serviu pra me colocar no meu lugar. Como quem diz: “Acorda, desmonta essa roupinha que ficou bem e acorda! Você não chama atenção de ninguém. Se enxerga! Agora, molhado e destruído pela frustração mais imbecil do ano!”

Eu dei unfollow nele. Eu decidi pegar um livro e estudar. Se eu não tenho sex-appeal, tenho que ter diploma.




Ouvindo: Lights Out – Santogold