Vergonha

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Artesanato de Antonio de Castro

Acho que estou passando uma fase boa na minha vida pela primeira vez. Finalmente chegou a hora em que estou seguro de mim e de minhas decisões. Tão seguro que estou em condições de ajudar as pessoas que não estão bem e que vivem no meu círculo de convivência.

Aquelas pessoas que amo infinitamente. Uma delas é meu ex-namorado. A ressaca da festa foi ainda pior. Terça feira acho que ele não tinha cara de me olhar. Talvez lembrasse de tudo que eu lhe tinha dito, no dia anterior, enquanto conversávamos, quando ainda em seu organismo nadava álcool na corrente sangüínea.

Mas uma hora a falta de cara, ou seja, de coragem, teve de ser vencida. Olhamos-nos, nos falamos, e ele prometeu que mais nada daquilo voltaria a acontecer, que sabia que tinha errado e tudo mais. Que não deveria ter bebido.

Depois foi a vez de ouvir os comentários das pessoas, que assim como eu, ficaram sóbrias. Foi a vez de ouvir histórias que envolviam meu ex-namorado e não eram histórias simples.

Pelo que parece a bebedeira fora tão grande e séria que na volta da festa, na viagem de ônibus, sentado ao lado do tal menino novo, as pessoas viram claramente que meu ex-namorado estava excitado.

Mais que excitado, fazendo movimentos estranhos, falando alto, rindo por nada. Ouviram barulhos de beijos, outros afirmam ter visto, no escuro da noite que caía, um beijo na bochecha sendo trocado. Um beijo que meu ex-namorado dava no garoto novo.

De repente fui tomado por um sentimento sem igual de raiva misturado com um sentimento de nojo, de arrependimento, preocupação, tudo ao mesmo tempo. Estava com raiva por ele estar se envolvendo com gente daquele nível. Com nojo pelo que deve ter acontecido naquele ônibus, principalmente quando me diziam que o tal menino tampava o pau com um jornal, como se estivesse mostrando só para meu ex-namorado. Estava arrependido de ter me envolvido com ele, de ter acreditado que ele era uma pessoa de bem e não mais uma bicha doida por sexo, que fica com qualquer um e acha que a vida é um filme pornô. Estava preocupado com ele.

E ainda continuo. Depois de tanto trabalho para manter nossa relação de maneira discreta no ambiente de trabalho, ele fica a muito pouco de ser descoberto. Com isso, eu fico para sempre vulnerável. É claro para qualquer um que esse menino novo não em pudor nenhum em assumir que homossexual, ao contrário de mim.

Infelizmente o mundo em que vivemos é preconceituoso e não dá para se assumir num ambiente de trabalho, pois quase sempre sua credibilidade fica em jogo. Não quero passar por isso. Envolvido com esse menino, meu ex-namorado fica ais próximo de se abrir com ele, falando de coisas que me envolvem, ameaçando minha imagem profissional.

E tudo isso só aumentava minha raiva, por ele estar me arriscando, se arriscando. Tudo por causa de um cu pra comer. Por ele está errando de novo, se envolvendo com uma pessoa do trabalho. Se expondo, me expondo. Por ter bebido e ter dado motivo para as pessoas falarem dele, por estar me obrigando a comentar.

No ápice do alcoolismo, as fotos dele foram apagadas, na volta, entre risos e boatos que envolviam ele e o tal garoto novo. Fotos que ele disse que estava bloqueando, fotos que só quem viu foram eles dois. O mais engraçado é que naquela tarde ele e um outro menino, que também trabalha conosco e aliás é muito meu amigo, saíram para tirar fotos pelos matos do hotel fazenda. Esse menino também tem trejeitos de homossexual e voltou, como eu percebi astutamente, eu diria, do tal passeio fotográfico com meu ex-namorado com a sunga suja de terra.

Não sei se estou delirando, mas com toda minha criatividade, só o que consegui pensar é que as fotos não eram fotos normais, que ele mostrara as fotos para o tal menino novo, tentando bloqueá-las para se proteger, e que ele realmente fez tudo errado na festa, com mais de uma pessoa.

Ele negou, é claro.

Quanto ao namorado do tal menino novo, fica perguntando para todos o que achou da festa, como se não lembrasse de nada que tinha feito. Mas nós lembramos e comentamos. Comentamos o que ele desabafou com uma pessoa que nem sei quem foi sobre seu namoro e a crise pela qual estavam passando. Que amava o tal menino, que o tal menino não queria nada sério, sentia ciúme do meu namorado.

Comentamos que no fim da festa ele estava no quarto dormindo de bruços enquanto o menino novo zoava ele na frente de todos, enfiando a mão em seu cu. Comentamos seus vômitos, seus vexames, tudo.

Meu ex-namorado empenhado em tirar da cabeça das pessoas que viram seu comportamento alterado na viagem de volta que ele era gay. Queria aliviar sua barra, disfarçar e se fazer de desentendido. Tentou sustentar a história comigo, mas eu o conheço o bastante para saber que estava mentindo.

1 críticas:

Raphinha disse...

Cara que chato.
Entendo como vc está se sentindo, odeio me sentir exposto ou a mercê de outras pessoas.É dificil quando outros tentar por abaixo sua credibilidade, ainda mais no seu local de trabalho.
Infelizmente ainda vivemos nesse mundo extremamente preconceitouso e emebora tdos digam que não, tem sim muito preconceito.

Espero que vc fique bem.

Grande abraço.