Cabeça vazia é oficina do Diabo

Estive pensando na felicidade. E de como ela deve ser. Esse fim de semana escutei de um amigo uma verdade: Você não consegue ser feliz sozinho nem um minuto. Foi a mais inteligente verdade que já me falaram.

Nem por um minuto consigo estar sozinho, a não ser que esteja com a minha cabeça ocupada. E tem sido difícil ocupar minha cabeça.

Se eu estou em uma noitada e bebo, percebo que sou solitário e que sou triste por isso e começo a perturbar pessoas que gostaria que estivessem comigo naquele momento. Sejam paixões, sejam amigos, sejam inimigos ou casos mal resolvidos. Mas essa solidão não existe, fruto da imaginação.

Se o metrô se atrasa e eu de repente não tenho no que pensar, saco meu celular do bolso e mando uma mensagem para alguém distante que nem está pensando em mim para falar nada.

Ligo para a minha melhor amiga quando chego ao trabalho, quando vou almoçar, quando volto do almoço, quando estou saindo do trabalho, e antes de dormir pelo menos umas duas vezes. Brigo com a irmã dela quando o telefone está ocupado e com ela quando o celular está no silencioso.

Sou o campeão de deixar mensagens offline no MSN. A pessoa pode não estar ali, pode ser que ela nem entre e se ela não tem entrado há mais de dois dias, é certo que quando entrar vai encontrar algumas dezenas de mensagens minhas dizendo que estou com saudades.

Fui analisar essa saudade. Será saudade mesmo? Como se pode sentir saudade de alguém com quem você só não conversa há dois dias? Será saudade ou carência? Carência.

Eu necessito estar acompanhado e quando digo isso não digo por um amor, por um namorado. Não. É por qualquer pessoa. Por qualquer um. Preciso ter uma companhia que sei que vai estar desfrutando minha presença e meu falso bom humor.

Preciso ter meu MSN piscando e meu telefone tocando, preciso ter que receber mensagem nem que para isso eu precise mandá-las, nem que para isso eu precise dar um toque. Só parar lembrar a quem não lembra de mim que eu existo sim! E que eu estou pensando na pessoa. Mas eu não estou.

Poderia ser qualquer um. E agora eu lembro de quantas vezes já parei com a minha agenda do celular, escolhendo pra quem ia mandar mensagem, mesmo sem ter o que falar.

Fico pensando quando isso vai acabar, quando essa aflição por alguém vai passar. Quando eu vou poder pegar meu metrô de manhã sem ter que ligar para alguém. Não que não seja legal ser uma pessoa que procura, que deixa recados de amizade e de amor, mas isso deve acontecer espontaneamente. E não só para ter em troca.

Pelo menos suponho que devesse ser assim.

Ouvindo: Derretendo Satélites – Paula Toller