Reprise

quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Artesanato de Antonio de Castro

Tenho que aprender a amar quem me ama. Será que já não é muito complicado a vida de uma pessoa que é diferente de todas as outras ao seu redor, com gostos diferentes e inaceitáveis, tanto que devem ser escondidos? Pra quê criar ainda mais problemas pra mim mesmo?
Mas eu continuo passando metade do meu dia ocupado com isso. Dificultar minha própria vida e me impedir de ter um pouco de felicidade tem sido novamente meu passatempo favorito. Anos atrás, talvez dois ou três, eu passei pelo pior momento emocional de minha curta jornada humana.
Me apaixonei por um menino normal, eu diria. Comecei com amizade e estava feliz porque finalmente um homem queria ser meu amigo, mas minha felicidade ultrapassou os limites masculinos dele.
Não, eu não tentei nada com ele, não seria inconsequente. Mas comecei a agir de maneira errada com o garoto, cobrando dele mais do que ele poderia me dar. Comecei a exigir mais atenção, a sentir raiva quando ele estava com outra menina, coisas do tipo.
Ele não entendia, é claro, talvez até tenha começado a desconfiar e se afastou, mas não completamente, porque quem o afastou mesmo foi eu, com cenas de ciúme ridículas e mágoas por coisas que não despertariam esse tipo de sentimento, só pra conseguir me libertar um pouco de toda a mágoa que sentia por ele não ser meu como eu gostaria e por eu não poder falar sobre isso com ninguém.
Os caminhos de nossas vidas seguiram rumos opostos... Mas ainda lembro de uma das festas, quando ele entrou no banheiro, enquanto eu lava a mão. Ele estava bêbado e parecia ainda mais bonito naquela noite do que em todos os outros momentos que já tinha passado e que depois passei com ele. E ele, sem dizer uma palavra seque, me beijou na boca. O melhor de todos os meus beijos.
Cinco minutos depois e nenhuma palavra trocada no susto da situação, ele já estava novamente em um canto, conversando com uma garota e beijando-a na minha frente. Era o fim da festa, para mim que achava que ele se declararia e ficaria comigo para sempre.
Mas não, depois daquilo foi pior. Ele começou a me mal tratar, rir de mim com seus amigos e foi o fim de um amor, pelo menos seria o início do fim.
Depois disso já vivi um romance, o primeiro da minha vida, e hoje mais uma vez estou apaixonado pelo meu amigo heterossexual e cobrando dele atitudes que ele não deve ter comigo, pelo simples fato de que para ele, eu sou um homem, um amigo homem.
Estou triste pois não consigo acreditar que estou começando a gostar de alguém que vai me fazer mal por culpa minha e desperdiçando uma pessoa que gosta de verdade de mim e poderia me fazer feliz.

1 críticas:

Autor disse...

O Blog está muito bom.. continue desse jeito! Só que eu pessoalmente prefiro a parte "Diário" aos capítulos do livro.
Voltarei sempre!