Gastrite aguda

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Artesanato de Antonio de Castro

Dia complicado. Aparentemente seria mais um dia inteiramente gasto preso em um laboratório, trabalhando, mas não foi bem assim. Até foi, até o momento em que tive de conversar com meu ex-namorado.

Os momentos em que ficamos sozinhos ultimamente têm sido bem reduzidos, quase nunca, na verdade. Eu não sei se ele tem me evitado ou se eu inconscientemente tenho me afastado dele.

Toda essa distância faz com que seja muito difícil saber o que se passa com ele. Os últimos dias dele não foram participantes da minha vida e acho que ninguém é culpado. Só sei que não sabia como andava ele, o que vinha fazendo, a faculdade, as provas, os problemas no serviço e na família. Nada.

Parece que nossa última conversa que no momento pareceu tão esclarecedora e válida só serviu pra pôr um ponto final em qualquer relação que a gente pudesse ter. O pior foi a maneira como percebi todas essas mudanças que vêm acontecendo em nossas vidas.

A pior maneira possível, quando você fica sabendo pela boca de outra pessoa que uma pessoa muito importante para você está passando por um momento ruim. Ele está, e eu fui incapaz de perceber, o que faz com que eu me culpe ainda mais. Não por ele está triste e abatido. Sei que caso eu tenha uma fração de responsabilidade nisso, seria bem pior se eu tomasse uma postura contrária a que eu tomei, me aproveitando dele ou ficando com ele porque ele queria.

Enfim, depois de ficar sabendo desses problemas dele, assim de maneira bem generalizada, esperei a oportunidade e iniciei uma conversa. Estava preocupado com ele, com os problemas de estômago que ele vinha tendo que impedia-o de segurar qualquer sólido no organismo, tudo.

Não queria vê-lo calado, com o olhar perdido pelos cantos, não quero.

Mas a conversa já começou estranha, ele parecia incapaz de desabafar comigo, fiquei com medo que eu tivesse piorado as coisas, que eu tivesse toda a culpa na cabeça dele e que ele me odiaria se eu fosse perguntá-lo o que vinha acontecendo com ele, como se ele achasse que eu só estava fingindo e trepudiando dele. Eu não estava.

E ele não achou essas coisas, pelo menos não falou. Na verdade, nem falou. Chorou e alí eu vi sua fragilidade, toda sua necessidade de um ombro para conversar, queria ser esse ombro. Vivemos tantas coisas juntos, nos amamos, gosto de acreditar, em todos os sentidos nos amamos. Tive ele dentro de mim e foi especial, gostei de tê-lo e quero para sempre essas lembranças, só as boas, porque as ruins nem lembro se existiram ou se são frutos da minha fértil e novelesca imaginação.

Mas não pude ser seu ombro, não pude ouvi-lo, nem ao seu silêncio, nem ao seu choro. Outras pessoas chegaram, ele chorou ainda mais e eu com mais medo de ter responsabilidade pela tristeza de uma pessoa a quem quero tão bem, medo de ter me envolvido menos do que ele e de ter em algum momento iludido-o de que para mim seria eterno.

Prestava atenção a cada frase, remoia a inicial, quando ele disse a uma das pessoas novas na conversa, em meio a lágrimas que não era só o serviço nem a faculdade. Remoia cada palavra dessa frase com um medo sem igual de que esse resto causador de seu stress fosse eu, fosse o momento em que lhe disse que tudo acabara, assim meio de surpresa um pouco esperada.

Nosso momento ficou para depois e a culpa para todo sempre. Culpa por amá-lo como amigo e por talvez fazê-lo sofrer. Se não fazê-lo, não ser capaz de acabar com todo esse sofrimento, assisti-lo de camarote e aplaudir. Não quero ser platéia. Quero ser ator.

2 críticas:

Anônimo disse...

Acho tudo de bom o que vc conta aqui da para saber o que vc sente de verdade

Anônimo disse...

Por que parou de escrever o livro? Mais uma vez te digo gosto muito do jeito de vc escreve com um tom bastante verdadeiro.