Sem fôlego

segunda-feira, 9 de junho de 2008
Artesanato de Antonio de Castro

Hoje estive pensando em como as coisas mudaram em tão pouco tempo. Parece que foi ontem quando eu descobri o que era viver esse homossexual que existia dentro de mim. Sentir as mãos de um homem, que nem era tão homem assim, era mais um menino, conhecendo o meu corpo daquele jeito mágico que idealizei.

Depois foram as novidades do que é um namoro. Por muito tempo pensei que nunca namoraria, por achar que esse tipo de coisa séria seria impossível sendo um gay... Enfim, nem eu sabia o que se tratava essa classe na qual eu faço parte desde que nasci.

E aí surgem meus demônios. De repente me vejo tentado a largar tudo que estava me deixando feliz pelo simples motivo de que talvez, eu disse talvez, tudo aquilo não fosse a felicidade que eu esperava.

Pareceu plausível na época, mas hoje soa tão ridículo. Hoje, quando eu olhei meu ex-namorado, aquele que tantas vezes me fez o homem mais feliz do mundo nem que fosse por dois minutos. Hoje quando me vi mais uma vez naquela posição em que tantas vezes já estive, no mesmo lugar, sentindo o mesmo olhar dele para mim.

Nem sei por que estou escrevendo sobre ele, nem sei por que pensei tantas vezes durante o dia nesse acontecimento. Foram algumas palavras: “Pode se aproximar, eu não mordo”.

Não queria dizer nada, e soou até idiota na hora em que ele disse, como tudo o que ele fala nessas horas, mas me soou idiota de um jeito diferente, do jeito que soava há um ano atrás, quando tudo isso começou.

Seis de junho foi a data fatídica para tudo começar, um ano atrás, três meses depois do meu ingresso na empresa. E até lá tantas coisas mudaram para mim. Eu fui de estagiário discreto a um analista visado, que vai estrear um turno noturno, que discute com a chefe, vai a reuniões e todo o resto que eu tenho feito e que não sei se era o que esperava de mim.

E os meus demônios adormeceram, eu me apaixonei e me desapaixonei algumas vezes pelo meu amigo hetero. Sofri com palavras que ele não dizia e vibrei com olhares normais. Terminei meu namoro porque a aproximação do meu amigo hetero não seria justa com o meu ex—namorado. Não que houvesse chance, eu sempre soube que não havia, mas havia pensamentos.

Infelizmente. Eu negava sempre que ele perguntava, mas existia. E talvez ainda existam. Percebi hoje, quando o vi conversando com a menina do trabalho com quem ele tem saído. Ele estava lá, sentado em horário de trabalho, conversando como eu e meu ex-namorado costumávamos fazer.

Eu nem sei o que pensei, mas não gostei de ser obrigado a entrar naquela sala e vê-los, interromper o que quer que eles estivessem conversando, vê-lo me chamar para ir trabalhar de carro com ele daqui a dois dias.

Desde o início até hoje tudo isso é algo incompreensível. Eu não posso dizer que sou apaixonado por ele. É mais um sonho por algo do seu tipo, alguém que goste de mim do jeito que ele diz que gosta da namorada. Um jeito que nem existe, mais uma mentirinha boba dele.

Depois foram as idas e vindas com a minha melhor amiga, que se transformou na minha melhor step, aquela que você encontra quando está sozinho. Aquela que não precisa de mais de duas conversas de meia hora pelo telefone para encontrar e fazer alguma coisa interessante. Que além de ser doida por você ainda não deixa de ser uma boa companhia, mas é uma mulher e uma mulher não satisfaz um homossexual para sempre.

E a step não funcionava sozinha. Surgiram as necessidades físicas, saciadas do jeito mais sujo possível com um alguém desconhecido em uma atividade sexual despretensiosa. Mais eu sou só um menino bobo, um iludido que acha que sexo pode se transformar em algo mais como foi da primeira vez. Mas nem todas as vezes são a primeira vez.

E então eu sofri, e voltei para a step, a fim de carinho. Os amigos abandonaram, todos namorando. O dia dos namorados se aproximando assim como passado. E dessa vez um passado mais próximo e ainda mais arrebatador.

Histórias com meninos do segundo grau, beijos na esquina em público, telefonemas que pareciam não significar nada até altas horas da madrugada, eu estava cansado de tanto amor, eram os demônio acordando de novo. Dessa vez em sono ainda mais leve.

Acordavam e afastavam aquele que poderia ser minha salvação. Aquele que nem me liga mais, que talvez tenha cansado de tentar ou tenha se decepcionado com a falta de esforço da minha parte em corresponder o que ele tinha levado tanto tempo para admitir que sentia por mim.

Despertavam também aquela vontade de ser aceito, de ser normal e namorar uma menina bonita e legal que parecia estar interessada por você. Foram alguns dias de tentativa até ser também minado por tudo o que aflora de mim. Tudo que não presta.

E agora eu estou aqui, não espero um telefonema do garoto que me beijou, não sofro com a distância do meu ex-namorado, não espero meu amigo hetero entrar no msn p conversar qualquer coisa sem importância com ele, nem um scrap vagabundo da minha step ou da menina bonita do trabalho. Não tenho conversado com pessoas estranhas no bate-papo ou marcado encontros com desconhecidos a fim de prazer por prazer.

Parece que um ano foi suficiente para minar tudo que parecia ter vida da minha vida. Parar de viver e ficar mais uma vez assim, sem ter em quem pensar, sem ter por quem sofrer. Parece que meu dia dos namorados será só mais um dia e não o dia para eu lamentar o fato de não ter alguém perto de mim.

Esse post todo foi refletir o quanto meus amores são efêmeros hoje em dia. Percebi isso ao ler um post de um blog novo que conheci, que falava do primeiro amor. Lembrei daqueles amores de antigamente, de quando tudo era mais que corpos andando em direções, de quando eu amava, daquele jeito inocente que acorda ao reencontrar pessoas, assim como acordam os demônios, mas a intenção é adormecê-los. Para sempre. Hoje sou mais uma barreira do que um portão. Não amo para poder largar tudo e continuar ileso quando os demônios acordarem.

Mas ando tão machucado.
Ouvindo: Breathless - Corinne
Bailey Rae

7 críticas:

Nadezhda disse...

Eu até esqueço do dia dos namorados. Sempre passei sozinha, então não faz diferença.

Acho que esqueci de vez meu caso antigo, e espero que ele fiquei assim, enterrado, pra sempre.

Estou em recuperando dos meus machucados.

;)

Râzi disse...

Menino... eu nem sei o que dizer...

Vc parece ter se colocado em uma roda viva de sofrimentos...

Se colocar, sim, foi o que eu disse, porque já vi gente sofrer muito mais do que vc o não ficar assim...

Parece que vc se entregou, desistiu...

Ou então vc é muito sensível às coisas...

Mas meu irmão é sensível... talvez mais do que qualquer pessoa que eu tenha conhecido, e ele passou por muito mais do que vc pode imaginar....

E ele não está assim! Ele tem esperança!!!

Reerga-se, meu querido!

A vida tem muito mais! Seja forte! vc pode!!!

Beijão!

Goiano disse...

meu lindo
tdo mundo passar por esses dramas
so qeu levanta e sacode a poeira
vc tem TUDO pra isso

bjos

Leo disse...

Não sei nem o que te dizer... te entendo tanto... de verdade!
Life sucks.
Sabe aquela história de que no final dá certo, se não deu certo é porque não é o final? Bem... acredito nisso... me motiva às vezes!
Você merece ser feliz! E vai ser! Só precisa de uns curativos... :P

Rafaela Abreu disse...

É incrível como tudo é passageiro.. isso acontece com tood mundo.

Não sei por quê, só sei que não gosto.

Abraço

Pollyanna disse...

a vida é assim mesmo, Pequeno, as vezes acertamos, outras erramos....
mas sabe, definitivamente que o assunto do teu amigo hetero é mais curiosidade... essa coisas de talvez desperta em qualquer pessoas sentimentos que nem os seus.... talvez ele nem seja nada do que tu imaginas...
sabe aquela história da viúva negra? q qnd consegue nao quer mais? sei la...

Mas nao fiques triste... cabeça erguida, veja suas prioridades e viva sua vida por você!

:*

Osky disse...

*** O novo blog falando sobre primeiro amor era o meu? o.O

*** posso te dizer q vc tem fantasmas e pensamenstos escuros como qualquer ser humano q se julga dentro dessa sociedade...

*** Sonhe mas não exponha a quem é mediocre... "são perolas aos porcos"

*** bjs e se recupere... tempo não sei se resolve mas ajuda a cicatrizar porém qd vc olhar sempre verá a marca... a feriada não vai doer mas a marca te lembrara o qt doeu ser feliz!