600

sexta-feira, 13 de março de 2009
Artesanato de Antonio de Castro

Já eram onze da noite de terça-feira. A alegria tinha me tomado desde às quatro mais ou menos, quando o telefone celular tocou e me deu a notícia que estava esperando há pelo menos três meses.

Três longos meses de angústia, quando ir trabalhar se tornara um sacrifício dos maiores, mais dolorosos, mais difíceis de se suportar. Mas acabou. E agora era respirara novos ares.

E essa alegria não era contida dentro de mim. Somado a isso veio o salário, que finalmente saíra. Isso também estava me deixando nervoso. Minhas contas chegando, minha mãe cobrando, como se tivesse o direito de cobrar algo, mas era a minha mãe. Relevemos.

Eram onze horas quando toda alegria voltaria para casa. Agora reempregado. Agora renovado. A idéia era passar no caixa 24h da loja de conveniência antes de ir embora, como era de costume todos os dias de pagamento, desde junho de 2007.

Sacar um dinheiro para minha mãe, sacar um dinheiro para mim. Pensando bem, esse mês deveria ser um mês de economias levando-se em consideração que eu estava mudando de emprego e que só começaria no emprego novo um mês depois que saísse do atual.

Não usaria cartão de débito esse mês. Eu sempre passo do limite com o cartão na mão. É como se eu não sentisse o dinheiro indo, como se eu não controlasse. Então esse me seria no dinheiro. Vamos sacar o dinheiro para o mês todo.

600 reais é mais que o suficiente. Estamos economizando, não se esqueça.

Comprei uma latinha de soda, peguei o canudo, paguei o refrigerante e saí da loja, indo em direção à estação de metrô mais próxima. A rua estava movimentada, para uma terça-feira às onze da noite.

Os alunos da Fundação Bradesco andavam como sempre em bandos barulhentos indo para algum lugar que eu nunca identificava onde era. Mas eu os acompanhava. Canudo na boca, o gosto de limão, as bolhas de gás.

Em algum momento eles sumiram. Eu não percebi. Em algum momento a rua ficou deserta. Eu atravesse uma pista, mais uma e cheguei à calçada da praça onde fica a estação. Ao meu lado parou uma moto com dois homens. Um dele desce da moto, já tirando do short tec-tel um revólver que não sei descrever, não conheço revólveres. Acho que nunca tinha visto um de tão perto, estanhei ser tão pequeno.

Me segurou pelo braço com força e colocou a arma na minha testa.

Minha temperatura caiu. Talvez tenha ficado mais gelado que a arma na minha testa. Eu estava sozinho. Dois homens me rendiam, um na moto, outro ao meu lado de pé.

Ele não queria nada, como disse. Nem meu celular, nem meu relógio, nem meus documentos. Só queriam o dinheiro que eu tinha. Tentei mentir, dizendo que não tinha dinheiro. Acho que foi instinto.

Ele disse que era melhor eu facilitar as coisas e entregar o dinheiro. Eles tinham me visto sacar, tinham me seguido e esperado o momento para me assaltar.

Eu peguei minha carteira no bolso da mochila, abri-a. A arma na minha testa. Tirei as notas. Doze notas de cinqüenta reais. Entreguei-as. A arma na minha testa. Ele contou as notas com uma mão só enquanto segurava a arma com a outra. A arma na minha testa.

Eu fechei minha carteira e coloquei-a no mesmo bolso onde estava. A arma na minha testa. A essa altura estava desesperado. O que eles estavam esperando. O que iam fazer comigo.

De repente me vi montado na moto, sendo levado em direção a um caixa mais vazio, onde pudesse sacar o resto. E não poderia sacar nada porque minha conta não permite e seria assassinado porque o banco proíbe saques maiores que 600 reais por dia.

600 reais. A arma na minha testa.

Ele se afastou, subiu na moto colocando a arma novamente no short, o dinheiro na mão e foram embora.

Eu entrei na estação de metrô. 600 reais mais pobre. 600 vezes mais grato.

6 críticas:

FOXX disse...

PQP!

Leo disse...

Ai kra... que merda!
cidade de merda!

Mari disse...

Ser assaltado é uma droga!!! mas ainda bem que esta tudo bem com vc!!
bjoo

Paul disse...

Nossa, q merda!
eu me lembro de quando fui assaltado, é uma situação péssima!

du disse...

.que situação terrível...

.além de todo o prejuízo, o sentimento que fica depois é um tanto desanimador. um trauma. um medo....

.abraço.

Rafaela Abreu disse...

Que bom que está tudo bem com você!
Olha, quem nunca foi assaltado, ainda vai ser... é uma pena, mas é uma estatística.

Bjinho!