Necessidade

terça-feira, 14 de abril de 2009
Artesanato de Antonio de Castro


Subi até o décimo segundo andar para enxergar o que não posso tocar. Mas nem assim consegui. É tão injusto que o mundo seja tão grande. É tão injusto que por mais escadas que eu suba para olhar aquilo que não tenho a mão, nem minha visão nunca alcançará.

Eu desci as escadas a pé. E no caminho, comecei a pensar na distância. Será que ela é tão grande assim? Será que é preciso aumentá-la para evitar que haja sofrimento? Sei lá. Sei que ainda não estou preparado para lidar com isso.

Sem querer percebo que me envolvo muito com tudo. E que a culpa é minha. Sou eu que quero saber da vida de todos ao meu redor, sou eu que gosto de estreitar relações. Mesmo as impossíveis. E agora eu tenho que carregar isso comigo. Até que ache uma solução verdadeira.

Não.

Desci as escadas imaginando o que eu poderia fazer para mudar essa situação. Poder entrar no MSN, conversar com as pessoas, ouvir suas lamentações e não sentir vontade de abraçá-las quando estão precisando d um abraço.

Pensar num modo de conversar, descobrir segredos, contar segredos e não sofrer com o fato de haver a distância. Pois ela há, né? E o que não há é uma maneira de minimizá-la. Isso não há. Pois quando entramos numa relação dessas, as virtuais, elas já começam com esse intuito. A de ser virtual.

Eu busco amigos virtuais porque acho que os da vida normal não me entendem por completo. Eu busco namorados virtuais porque não me apaixono por ninguém que preste ao vivo e a cores.

Mas também nunca me apaixono por pessoas legais na internet. E quando me apaixono é via de mão única. A minha. Aí eu me sinto mal. Eu subo ao décimo segundo andar e passo horas olhando o mundo mais próximo de mim.

Só aquilo ali já é tão grande. Só aquilo ali já é tão cheio. E é só uma parcela, uma bem pequena, das relações interpessoais que existem ao meu redor. E imagino que uma dessas pessoas de internet, que conheço, que me encanta, que me apaixona... uma delas também pode subir quantos andares quiser, olhar a distância, o máximo que puder e vai ver mais um milhão de pessoas.

Eu não vou estar ali. E isso nos torna distantes. Isso nos torna impossível.

Quando cheguei ao hall de entrada da faculdade, senti um vazio. E estava rodeado de pessoas. Os elevadores não estavam funcionando, filas de pessoas esperando para poderem subir até o décimo segundo andar. O andar dos suicídios, o andar do conhecimento.

E ainda que o hall estivesse cheio, eu me sentia sozinho. Aquelas pessoas não estavam interessadas no que eu tinha a dizer, e nem sei se tinha algo a dizer a eles.

Eu tenho amigos que me escutam. Tenho. Mas eles não me ouvem.

Ouvindo: My Father’s Gun – Elton John

8 críticas:

du disse...

.nada é simples nessa vida. por mais que tentamos encontrar atalhos, acabamos sempre na mesma encruzilhada....

.abraço

FOXX disse...

eu ouço sim
só não concordo!

Bruno disse...

Isso é uma fase muito triste, mas apesar de tudo muito bonita.
Me identifiquei profundamente com o que você relatou.
Posso lhe dizer que se você catar direitinho, e fizer alguns ajustes para que possa ser catado, pessoas magicas podem passar a fazer parte da sua vida.
Espero que você consiga.
Dai depois esses textos passam a ter uma beleza ainda maior.
abraço!

Mari disse...

Acredito que a pior solidão seja essa, a de estar num meio de uma multidão e ainda sim estar sozinho...me sinto assim as vezes, me envolvo sempre mais que os outros, é mto dificil, viver a margem...

Ps. Sim tem ( ou tinha) mercadoria nova...mas sumiu, do mesmo jeito que apareceu...

Ps2. o sr. não me add no msn ne?
ai ai...viu!

bjoo

Fabiano (LicoSp) disse...

as vezes tenho vontade de estar neste tipo de solidao, mas soh as vezes...

bjs do Lico

Arsênico disse...

Sinceramente?... Não tenho muita paciência pra ouvir... os amigos que tenho são verdadeiros... mas odeio quando vou visitá-los e eles despejam seus problemas sobre mim... poxa... já estou quase entrando em depressão com os meus... ainda me arrumam mais?... eu curto amigos pra conversar bobagem... rir a tôa... beber... dançar... é claro que as vezes uma reclamaçãozinha torna-se necessária... mas só o necessário... please...

***

Nadezhda disse...

"É tão injusto que o mundo seja tão grande."

Quanto mais penso nisso, acabo achando cada vez mais necessário que seja assim.

;)

Juliana disse...

Muitas pessoas nos escutam, mas poucas ouvem o que realmente queremos falar.
Não deixe de buscar por aquilo que lhe falta, por aquilo que vai te completar!