Quase

domingo, 4 de outubro de 2009
Artesanato de Antonio de Castro

Já faziam dois anos que não conversávamos. Ou quase dois anos. E começou com um ‘Olá, tudo bem?’. Típico dele. ‘Olá, tudo bem?’.

Eu disse ‘Oi’ e quando eu vi havia se estabelecido uma conversa. Eu ainda lembrava das fotos que ele postara há umas duas semanas, ele e um menino num show. Um menino que fazia bem o tipo dele. Loiro, magrinho, com cara de menina.

Ele vivia me dizendo que gostava de homens assim, enquanto a gente namorava. Mesmo eu sendo negro e gordo. Mesmo eu tendo traços de negro e sorriso de gente nojenta.

Eu convivia bem com isso na época, mas quando vi a foto algo aconteceu. Eu gelei porque fiquei feliz por ele. Porque fiquei frustrado. Era o show da mulher que cantava a nossa música, porque aquela ainda era a nossa música, ainda que não exista mais ‘nós’ em lugar algum há dois anos. Ou quase dois anos.

Eu gelei e lembrei quando vi o recado do menino, o mesmo menino da foto, há quase um ano atrás, quase seis meses depois que a gente terminou, dizendo que não via a hora de comer cachorro quente na casa dele. O cachorro quente que era meu. Lembrei que aquele foi o motivo pra eu cortar relações. Porque pra mim ele ainda era especial. E eu não passei de um ex-primeiro-namorado.

Como se fosse possível um atual-primeiro-namorado. Ele viva dizendo na conversa que não havia como não comentar com uma companhia, quando passava pela minha estação do metrô, que ali morava o seu ex-primeiro-namorado-pra-valer.

Eu disse que não gostei do título que me fora atribuído. Ele disse que não havia como dizer outra coisa, porque eu não sabia quem era a tal companhia. Subentendi que era a mesma com a qual ele decidiu não ver Uma Prova de Amor semana passada. ‘A gente decidiu ver outro’.

Eu não perguntei quem era ‘a gente’. Eu perguntei que filme eles viram. Afinal de contas fazem dois anos. Ou quase dois anos.

A conversa continuou. Ele me chamava de ‘garoto’ e dizia que não havia como não pensar em mim quando ouvia nossa música. Eu disse que também lembrava sempre. Mas a verdade é que eu evitava ouvir nossa música. Porque eu evitava lembrar dele.

Ele disse que me chamar de ‘garoto’ era melhor do que me chamar de como me chamava. Eu não lembrava como ele me chamava. Ele me chamava de ‘menino’. E me veio a imagem da Kate Winslet em ‘O Leitor’. Me veio à mente os banhos, dados e tomados.

Eu estava gostando de conversar com ele. Ele curte boate gay agora. Ele tinha tanto medo de sair quando a gente namorava. Eu queria até um abraço dele naquela hora. Queria manter contato. Queria beijar na boca e saber se tinha o mesmo gosto. Eu queria cortar meu rosto. Arranhar com um estilete afiado.

Arranhar com a barba dele.

Mas tudo o que eu fiz foi ouvir ele falar de como e devia mudar pra minha vida mudar também. Como eu era o culpado por como a minha vida está. Sobre como está tudo muuuuuito bem com ele (Estou transando toda semana com um loirinho, você lembra que era o meu sonho?). Pedi pra ele não me contar detalhes.

Eu tenho dessas coisas, quando algo me magoa, eu não tenho orgulho algum em admitir e pedir pra ser poupado. Não teria estômago para ouvir. Nem teria coragem pra contar as minhas desventuras.

Eu só queria sair daquela conversa com o rosto dolorido. Do mesmo jeito que estava a minha barriga. Eu queria sair com o rosto cheio de hematomas, vermelho e quente. Suado e molhado. Cheio da saliva dele. Cheio de seu cheiro.

Mas fazem dois que a gente não se toca assim. Ou quase dois anos.

Ouvindo: I Don’t Love You – My Chemical Romance

4 críticas:

FOXX disse...

gostaria de poder pelo menos reclamar disso

Arsênico disse...

gostaria de poder pelo menos reclamar disso²

Ops!... eu já reclamei... hahaha...

Eu não quis falar no meu post... mas talvez minha noite péssima na buátchy ontem... foi porque vi meu ex de tb quase 2 anos... passando lá na frente...

Recém chegado de Floripa... tão lindo quanto sempre... mas tão imprestável quanto...

***

umBeijo!

Cristiano Contreiras disse...

Interessante seu espaço aqui, que bom que entrei por acaso aqui! volto mais, claro, mas te seguirei!

Na Cama Com Eles... disse...

O primeiro a gente nunca esqueçe! rs