Início do Fim

Pronto, aconteceu.

Hoje eu consegui enfim terminar com a relação estranha que nascia entre mim e meu amigo. Que fique bem claro que a partir de agora irei chamar a pessoa com quem tenho tido sonhos estranhos e vontades anormais de "amigo". Chegamos ao ponto onde o que ele pode me dar é muito pouco para mim. O ponto onde eu não me controlo e cobro dele uma atenção especial que ele não me deve pelo simples motivo de ele ser hetero.

Brigamos, sem trocar mais do que seis ou sete palavras. O costumeiro hábito de pegarmos o metrô juntos i voltarmos para casa rindo, conversando alto e rindo das pessoas ao nosso redor foi hoje interrompido no meio da ação.

Não sei bem o motivo, só sei que ele tem me evitado constantemente. Na verdade, não me evitado propriamente dito, só evitado o momento quando vamos embora juntos, ou seja, o momento quando ficamos sozinhos e mais próximos, quando ocorreram as maiores demonstrações de afeto e carinho.

Essas demonstrações não são nada parecido com beijos quentes ou abraços com mãos que sobem por um caminho definido e objetivo. São palavras, as mais bobas, daquelas que dizem que somos amigos, que ele me admira muito e que quer meu bem. Nada diferente do que um amigo diria para outro.

Mais hoje não fomos tão amigos. O fato de ele ter evitado ao máximo em vão ir embora comigo deve ter gerado nele um mau humor que não sei explicar ou talvez a ligação de sua namorada enquanto cruzávamos as ruas em direção à estação.

Sim, namorada, não sei se tinha mencionado isso nos posts anteriores, mas é, ele tem uma namorada. Não conheço a menina mas ela parece ser legal e parece gostar dele. No fundo, quando eu lembro que ele é hetero, eu torço para que ele fique com ela e fique feliz. Na verdade, a todo momento eu torço pra que eles fiquem juntos, ou prefiro torcer para não correr o risco de me magoar. Não torço por mim com ele pois sei que é algo impossível, só tenho isso a dizer.

Ainda mais agora que o mau humor dele desencadeou minha raiva. Brigamos quando nem tínhamos chegado à estação, brigamos não. Ele não riu de uma piada minha, brincadeira que nós costumamos fazer, entretanto ao falar do meu riso que na opinião dele era desmotivado, ele falou sério. Não era uma brincadeira, dava pra ver em seus olhos que ele não aguentaria me ouvir falando a viagem inteira e rindo e tudo o mais.

Já tinha começado a achar que a idéia de ir com ele depois de três dias em que íamos separados não era boa quando começou a falar com a garota pelo rádio, e tive certeza quando ele foi ríspido comigo.

Me senti pouco importante, o que não admito. Devo ser notado e ouvido, mania de leonino. A raiva foi tanta que simplesmente decidi ir na frente e deixá-lo pra trás. Foi o que eu fiz.

Enquanto dava meus passos mais apressados que o normal para ele não me alcançar no caminho, imaginava ele rindo e correndo pra ver se me pegava. Ou então, ao chegar na estação e me ver, viria rindo, me abraçaria e daria uma gargalhada que só ele sabe, com a qual eu tenho sonhado algumas noites.

Riríamos de uma estação a outra até a outra e assim por diante, mas ele não veio até mim. Parado na plataforma eu o vi, seguindo até o fim pelo chão encerado em meio a multidão, sem tirar os olhos do caminho, sem ceder a uma vontade que nem existe de me olhar e sorrir. Não sorriu.

Olhou pra frente foi embora para a outra ponta do metrô, o mais distante possível de mim, de onde eu não ouviria sua gargalhada encorpada. Durante a viagem, achei que nos encontraríamos na estação onde solto, mas não. Pensei que ele me ligaria dizendo que eu era um idiota. Que entraria no messenger ao chegar em casa e me xingaria e riria, mandando emotions que odeio.

Entrei no msn, desbloqueei ele, deixei aparecendo on line, pra ele me notar, caso eu estivesse bloqueado ou ele no modo aparecer off line.

Estou esperando até agora por ele e por sua gargalhada que não sei vou ouvir novamente, não sei se isso foi definitivo, se vamos nos tornar menos amigos por causa da minha loucura, achando que tenho direitos que não tenho.