Árvores que se erguem

sábado, 1 de dezembro de 2007
Artesanato de Antonio de Castro

Posso decepcionar muitas pessoas, mas hoje vou mudar ou pelo menos tentar mudar minha estratégia de vida.
Sim, depois de tantas descobertas que já haviam sido feitas há tanto tempo e tantas novidades em minha vida, talvez seja a hora de decidir se é isso mesmo o que eu quero. Se a homossexualidade é o caminho certo para mim, se tudo vai dar certo se eu escolher para sempre encarar os outros sabendo que minha vida é bem diferente do que todos eles imaginam que seja.
Na verdade, eu sei que não vou descobrir nada disso hoje, mas hoje pode ser a última tentativa de mudar o que comecei quando decidi ser gay, quando tive minha primeira relação homossexual.
Vou encontrar uma antiga amiga, uma antiga paixão, uma menina que há alguns anos eu conheci, tive uma atração, ficamos algumas vezes e depois de muito tempo nos reencontramos para transarmos e descobrirmos uma parte bem significativa do mundo juntos.
O natal já se aproxima e com ele surge em mim todos aqueles pensamentos de repensar e refletir sobre minhas atitudes. Tudo o que fiz esse ano, o que me tornei, as coisas que decidi e os erros e acertos que cometi por impulso ou não.
O natal se aproxima e com ele os enfeites, a árvore, os presentes, os passeios nos shoppings lotados. Os amigos e os cartões, amigos sumidos que não vejo há muito tempo e dos quais tenho saudades.
Ela, essa menina que encontrarei hoje mais tarde, é um desses amigos de longa data. Um dia ela já foi muito importante para mim, antes de todo esses avalanche em minha vida e de tantos outros avalanches. Um dia eu já me deitei em minha cama pensando nela como hoje penso no meu amigo, como ontem pensava no meu ex namorado.
Um dia ela já foi minha ambição e beijar-lhe a boca meu desejo maior. Um dia nos beijamos, em mais um fim de ano, mais próximo do natal, como um presente há muito esperado e então alcançado, meu primeiro beijo.
Depois nos afastamos, vontades diversas. Ela queria namorar, eu também, mas era diferente. Medo de fazer algo errado, de não dar certo, de decepcioná-la, de não corresponder às suas expectativas. Nos encontramos e nos afastamos algumas vezes ao longo de três anos. Três longos anos.
Conversas no telefone, no msn, horas perdidas dividindo coisas em comum. Uma verdadeira amiga, como tantas outras que tenho ou não. Não, não era como todas as outras amigas, havia algo de diferente, algo próximo a amor. Sim, amor. Talvez eu a ame porque sempre volto para ela. Sempre, quando tudo está dando errado, é ela que me surge e me abraça, me leva para longe e me faz feliz.
Talvez seja um pouco de comodismo, acreditar que sempre existe alguém pronto para te receber seja quais forem as circunstâncias é algo reconfortante. E foram muitos esses momentos. O último foi quando terminei meu namoro, só que ela não estava lá. Ao mesmo tempo que meu namoro homossexual terminava; o dela, o namoro mais normal de todos os namoros normais, começava com glórias.
Depoimentos românticos e apaixonados no orkut denunciavam o quão feliz ela devia estar perto de um homem que realmente a fazia feliz. Mais feliz do que eu, que reencontrei-a depois de quase dois anos de distância, lhe fiz amor, lhe apresentei algo que vai acompanhar para o resto da vida, as mãos de um homem que lhe tocam o corpo imaculado. Amei-a com todo o meu amor e ela me amou. Mas não passou de um dia e algumas conversas no telefone explicando que tudo não passara de um dia, que nossa amizade era maior, porque naquele momento intimamente eu chegava à conclusão de que nossa amizade ou nosso amor não era maior que o meu por meu então namorado.
Mais alguns meses se passaram e com isso o natal e o fim do ano se reaproximando e eis quem me surge novamente. Seu namoro não é mais uma realidade e um sábado em comum nos aguarda. A vontade que eu tenho de vê-la é recíproca, ela me diz, a saudade de minha boca também.
Uma árvore que se ergue no meio das águas, como uma surpresa mais que querida no fim de um longo ano, um ano diferente de todos os meus anos, um ano que entrará para a minha história. Essa árvore é portanto o pretexto para mais essa tentativa. Um encontro como tantos outros, em meio a tantas pessoas, na claridade das luzes de natal que irradiam da árvore que se ergue. Quem sabe não seria minha chance? Minha última chance de ter o amor de uma mulher, ser feliz com esse amor e tornar minha vida uma experiência bem menos complexa?
Quem sabe hoje eu não vá receber meu primeiro presente de natal de um ano especial, quem sabe esse não seja o melhor de todos os presentes ou o primeiro de muitos tão bons ou melhores?

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