Pensando em provas

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
Artesanato de Antonio de Castro

Ótima prova, ainda que sem merecimento, levando-se em consideração que eu não toquei em um livro o ano inteiro, minha prova foi muito boa, perto do que eu achava que seria. Na verdade, não sem merecimento, afinal todos os meus anos de estudo focado tinham que valer por algo e valeram. Percebi que realmente sei o que sei. Que tudo o que tenho em minha mente em matéria de escola foi aprendido e não decorado, sou uma pessoa que domina alguns assuntos, enfim.
A prova também não foi ótima, pois de 25 questões e uma redação, seis questões eu nem me dei ao trabalho de fazer. Das 19 que eu fiz, eu acertei 15 questões, o que aumenta minhas chances de entrar na UERJ e finalmente estudar.
Esse ano tem sido bom, sem nenhuma atividade acadêmica, mas faz falta. Sinto que meu cérebro já pede por alguma ocupação intelectual que não seja ler Harry Potter e as Relíquias da Morte.
Ano que vem, ao que tudo indica, depois dessa derradeira prova, será um ano diferente, mais do que fora esse. Não, talvez não mais diferente, afinal de contas 2007 foi o ano no qual eu tive meu primeiro relacionamento gay com um menino muito especial.
Mas 2007 também foi o ano em que minhas teorias se confirmaram. Teorias da minha fraqueza para o meu próprio espírito volúvel. Mais uma vez, antes que o verão começasse deixei de gostar de quem até então me fazia feliz.
Mas sigo minha vida, focado agora na faculdade, ansioso pelo resultado final, quando meu nome estará, espero, entre os classificados e eu vou poder comprar uma mochila nova, cadernos e canetas que me façam ter vontade de escrever.
Vou ocupar meu tempo ocioso à noite e me sentir um pouco mais útil. Vou sentir de novo toda aquela euforia de uma nota alta e o stress de um trabalho entregue às pressas. E como tenho vontade de gozar de todos esses sentimentos de novo...
Vou reencontrar minha virtude e minha perdição. O menino com o qual me desiludi há alguns anos, na verdade, há dois anos. Ele estuda lá desde o início do semestre passado, filosofia. Espero que o prédio de filosofia seja bem distante do prédio no qual, se Deus quiser, eu vou estudar. Espero que eu não cruze com ele e que meus sentimento enfim adormecidos não decidam de novo despertar.
Foi uma pessoa especial, a qual amei como nunca amara. Mais um hetero com o qual eu tive que conviver. Entretanto, foi um caso estranho, quando bêbado, em uma festa, ele me beijou dentro do banheiro. Nunca tocamos no assunto, ele insiste para que nós nos encontremos um fim de semana, mas a mágoa pelos dias seguidos à festa ainda habita minha lembrança, seus comentários com os amigos sobre mim, suas piadas de mal gosto, depois de tudo...
Não sei nem como cheguei a esse assunto, nem sei se já mencionei-o alguma vez, mas enfim... algo inesquecível. Uma decepção sem igual, depois de tê-lo beijado e achado que ficaríamos juntos mesmo em segredo, ele decidiu me encarnar, ainda que não tenha em momento nenhum comentado com ninguém sobre o episódio do banheiro.
E agora eu vou reencontrá-lo com probabilidade grande de encontrá-lo com uma certa freqüência. Lembro de meu ex-namorado, quando conversamos sobre isso, ter ficado bem comovido com essa realidade, de que eu reencontraria alguém tão marcante na minha vida e lembro de como as coisas estão difíceis entre nós agora.
Trabalhar no mesmo local que alguém com quem você tem uma relação amorosa acarreta problemas irreversíveis depois que a relação termina, independente da orientação sexual do casal. Percebi isso hoje quando amigos meus que estão noivos não conseguem se encarar nos corredores depois de uma crise séria.
Percebi mais ainda quando não conseguia falar com meu ex-namorado em uma conversa amigável e não lembrar de seu e-mail de sábado ou domingo, nem me lembro mais.
E-mail comovente, estranho, pedindo para eu reconsiderar pelo menos o fato de continuar indo em sua casa para transar com ele e pensar no prazer de nós dois.
Estive repensando a minha vida e percebi há algum tempo que não quero sentir prazer só por prazer, não quero ser um desses homossexuais que dão motivos para os heteros hipócritas falarem que somos promíscuos. Quero encontrar alguém especial, como quando encontrei ele, e poder transar sentindo tudo o que senti come ele, sentindo amor.
Quero o mesmo para ele, talvez mais do que a mim mesmo... Imagino como deve ser difícil para ele decidir pedir pra gente só transar e mais ainda me ouvir dizendo que não quero.
Ainda não disse, estou criando coragem. Enquanto isso, vou ocupando meu tempo pensando nas respostas do vestibular e traçando planos para meu ano que vem. Que venha logo. Só assim vou poder esquecer meu defeito de ser volúvel e ter cansado do meu ex-namorado, talvez no melhor momento de nossa relação, e vou poder esquecer minha virtude e minha perdição que aos poucos sinto se reaproximar de mim.

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