Socorro

domingo, 6 de janeiro de 2008
Artesanato de Antonio de Castro

Retirado de uma das minhas cartas nunca entregues...

Rio de Janeiro, 21/10/2005

Há quanto tempo que não nos falamos? Tanto que nem sei, só sei que é muito, só sei que é o suficiente pra eu mudar e enxergar o mundo de outro modo. Um modo que me deixa doente e confuso.

Tomado dessa tal confusão que às vezes me deixa tão extasiado a ponto de me tirar do meu corpo, busquei respostas nas mais sábias pessoas que já conheci, e te encontrei.

Num canto de uma gaveta, embrulhada com outras tantas cartas que recebi na fase de despedidas há quase dois anos, tua carta. Li, reli, ainda me faltam respostas. Mas, mais que respostas, me faltavam oportunidades para eu desabafar.

Me faltavam pessoas maduras, verdadeiramente, que conhecessem as pessoas e soubessem respeitá-las. Pessoas que talvez não me entenderiam, mas saberiam como me aceitar.

Eu não sei me aceitar.

Esse tempo me tomou a vida, eu estudo, estudo e sonho com um futuro melhor para mim, que nem sei se vou alcançar com tanto estudo. Eu tenho esperança, mas não é isso que me deixa tão aflito.

Todo esse tempo consumido me privou de viver e ainda me priva. Eu só percebi isso agora e decidi mudar isso. Passei a conviver mais com as pessoas, respeitar as diferenças e de algum modo amei mais o pássaro do que o fio que segura o pássaro, de algum modo deixei de ter sede por possuir as pessoas.

Essas mudanças me fizeram ver o mundo de outra maneira, sem máscaras. Confesso que me assustei quando me deparei com a realidade e o quão suja ela é. Depois de um tempo, eu vi que fazia parte dessa realidade, querendo ou não. Que o que eu achava que era sujo não era.

Tudo o que ouço me parece um sinal, uma indireta. Ao mesmo tempo que as coisas estão claras, estão obscuras e difusas. Difíceis de se enxergar por mais que eu ajuste as pupilas, por mais que eu ande para méis perto do alvo de visão.

Quando acho as respostas, perco as perguntas e mais uma vez me sinto perdido. Perdido e doente, imaginando cenas na minha mente, vendo pessoas como eu queria que elas fossem, falando sozinho como se estivesse acompanhado. O cúmulo da solidão.

Amo um espectro imaginário que só real para mim nos momentos mais íntimos e, estranhamente, sinto ciúmes desse espectro, quando me deparo com a realidade. A pessoa que amo, mas que nem sei se amo, não sabe, nem imagina que eu sinta algo por ela, mas de qualquer modo, tomado pela tal doença, eu cobro intimamente dela o que ela não pode me dar.

Obrigado por me ouvir.

Ass.:________________________________________

3 críticas:

Pollyanna disse...

carta sincera, direta, nao conseguia parar de ler.
a d o r e i.

Raphinha disse...

Muito boa.

Que energia foi essa?
Estranha e tentadora... carta com extremo sentimento.

Linda.

Fláh disse...

fiquei feliz de seu reveillon ter sido bom.

:D

Carta lindíssima, queria tanto escrever cartas assim. Ai ai.