Inferno

quinta-feira, 13 de março de 2008
Artesanato de Antonio de Castro

Só lembro do som estrondoso que fez.

E lembro da cor, tão alaranjada. Não era possível, estava acontecendo comigo. E quando olhei minhas próprias mãos, estendidas na frente do meu corpo, senti com mais força ainda o calor tomar meu braço.

O fogo se espalhava com a rapidez de uma estrela cadente. De repente eu estava sendo tomado pelo fogo e tudo parecia sem jeito. O jeito foi jogar o vidro com solvente altamente combustível e comburente longe, sem pensar no que poderia acontecer ao laboratório, só pensei em me salvar.

Saí correndo, gritando para quem quisesse ouvir que se tratava de um acidente, um incêndio que se iniciava. Saí da minha sala e fui para a sala da minha amiga, ao lado. As pessoas começaram a se envolver e, em instantes, eu sabia que o meu amigo hetero estava apagando o foco de fogo que insistia em voltar e voltar.

Lá estavam todos os meus amigos de trabalho, preocupados comigo e tentando me acalmar. A minha mão já não estava mais pegando fogo, eu nem sabia se sentia ela. Quando parei para ver minha mão, comecei a sentir a ardência.

Quando parei para pensar no que tinha me acontecido, me dei conta do tamanho do que tinha acontecido a mim. O fogo lambendo o meu braço. Sentia ainda aquele fogo, que não me aquecia. Tremia.

Meus amigos me acalmavam e tentavam apagar o fogo. A minha mão intacta, mas ardendo. Em questão de segundos, todos os andares estavam lá para me prestar socorros.

O mais empenhado era meu amigo hetero, que além de ter apagado o fogo com sagacidade inigualável, ainda se mostrava interessado em minha saúde. Me levou ao hospital ao lado da minha coordenadora, nos esperou e foi o tempo inteiro fazendo piadas que ajudavam a esquecer a dor lancinante que me tomava a mão.

Foi o meu anjo do dia. Se não fosse por ele, não sei o que seria de mim. É claro que ele não fora o único a me prestar socorro, mas ficou ao meu lado até o fim. Comprou os remédios receitados pelo médico, carregou minha bolsa enquanto voltávamos. Me deixou na porta de casa, insistindo em conversar com a minha mãe para explicar o que acontecera.

Mas não precisava mais, o caminho de táxi fora agradável, conversamos, rimos, enquanto a minha mão melhorava e aos poucos parava de arder. Lanchamos e nos tornamos ainda mais amigos. Se antes disso tudo acontecer já existia um carinho gratuito por ele da minha parte, vendo agora o modo como ele lidou com a situação, uma situação delicada, tenho ainda mais motivos para torná-lo, apesar de todo o resto, uma pessoa importante na minha vida, a quem só quero bem.

Graças a Deus, a queimadura foi superficial, devido ao fato de o solvente ser volátil e ficar em contato com a minha pele por pouco tempo. O que há é uma leve ardência nas pontas dos dedos e nas juntas, fazendo com que esse post fosse escrito em muito mais tempo do que seria escrito em circunstâncias normais.

Mas não havia como não escrevê-lo hoje, perderia o ritmo do evento, o fogo não seria o mesmo.

4 críticas:

Nadezhda disse...

Que loucura!

Mas que bom que tudo acabou bem, e que nisso tudo você decobriu que existem pessoas que você pode contar sempre ;)

Pollyanna disse...

nooooossa, que sussssssto!
Menino, e o que tu estavas fazendo? Tu trabalhas, estudas com o que?

Aimeudeossdocéu! Toma cuidadinho!
E cuida dessa queimadura direitinho!

beijo

Anônimo disse...

rapaz que perigo!
mas ta direitinho agora ne?
e que bom que seu amigo esteve do seu lado pra ajudar..
depois me conta como surgiu esse fogo!

^^

Râzi disse...

Menino!!!!

Ainda bem quem não aconteceu nada com vc!!!

Tenha cuidado, tá???

Beijão!