Dormentes

quarta-feira, 14 de maio de 2008
Artesanato de Antonio de Castro

Saindo da faculdade, hoje, encontrei a pessoa que povoou minha cabeça boa parte do meu Ensino Médio. É a segunda vez que encontro com ele desde que entrei para a mesma universidade que ele faz há mais de um ano.

A primeira vez foi um encontro discreto, só nos cumprimentamos na frente de outros amigos em comum e perguntamos um ao outro como estávamos. Hoje foi ocasional.

Ele estava parado, falando ao celular na escadaria da universidade, quando me vê indo embora e me grita. Eu não tinha visto ele. E acho que se visse, fingiria não ter reconhecido ou notado sua presença.

Gostei do fato de ele ter me chamado. De repente estávamos os dois caminhando em direção ao metrô, quando me dei conta que, morando onde ele mora, seu caminho habitual deveria ser o trem. Ele confirmou e disse que naquele dia em especial iria comigo. Que sentia minha falta.

Preferi fingir que ele não tinha dito nada e continuei o assunto falando de coisas bobas, tomando cuidado para não falar sobre o episódio de dois anos atrás, quando ele me beijou na festa e nunca mais falou nada sobre.

Ele, entretanto, hoje, parecia disposto a puxar aquele assunto. Chegou a mencionar as festas de escola, com tom de quem queria chegar naquela festa. Graças a Deus chegamos no metrô, que já estava bem movimentado e ele foi obrigado a mudar o ruma da história.

Tenho medo do que ele pudesse dizer a respeito daquilo depois de tanto tempo. Talvez se tivéssemos tido essa conversa um dia depois do acontecido, teria sido minha melhor conversa, fosse qual fosse a posição dele. Mas agora... Parece que ele guardou tanto tempo algo para falar, não sei se estou preparado para ouvir algo tão sério.

No metrô cheio os assuntos foram desde a empregos até a namorada dele, menina bonitinha que vejo pelo orkut. Ele começou a falar que as coisas não estavam muito bem entre eles, que as coisas também não estavam muito bem entre ele consigo mesmo.

Acho que ele deve imaginar que eu sou alguém cheio de decisões tomadas, sem dúvidas, sem medos. Se ele soubesse como é difícil para mim não ter problemas comigo mesmo.

Quando chegou a hora de eu soltar, uma estação antes da final, ele disse que iria soltar também, apesar de ficar mais distante de onde ele pegaria um outro ônibus para a sua casa. Disse que queria conversar comigo até o fim da conversa, já que eu não ligava e sumia da vida dele como nuvem em dia de verão. A expressão que ele usou, sempre tão pomposo, como se fosse alguém.

Fomos andando até a entrada da minha rua, quando ficamos mais uns cinco minutos conversando e eu disse que tinha que entrar. Já era tarde. Mas na verdade, queria levar ele para casa e conversar mais, aproveitar que a minha mãe não estava em casa hoje e fazer uma loucura.

Mas já estou cansado de loucuras. Ele parecia que estava a procura delas. Ao se despedir, me abraçou e me beijou mais uma vez na boca.

Na rua, ao ar livre. Meu primeiro beijo homossexual ao ar livre, bem na esquina da minha rua, no escuro da estrada deserta.

Foi como voltar anos e anos. Foi como sentir o medo lhe subir as costas, achando que algum vizinho estava por ali ou que sua mãe, justo aquele dia, não tinha ido dormir fora, como sempre fazia às quartas. Mas eu não queria soltá-lo.

Foi o beijo de anos atrás, só que mais que consciente, foi um beijo esperado, eu sentia. Preparado, ensaiado. Ele sabia exatamente como fazer. Foi rápido, mas pareceu uma eternidade. E as mãos dele na minha bochecha parecem permanecerem. Sinto-as dormentes ainda.

Depois do beijo, olhei para ele e acho que não escondia o sorriso. Ele também não. Sorria daquele jeito que só ele sabia fazer e disse que queria me ter por perto sempre. Ao ouvir aquilo ficou claro que me ter por perto sempre significava ter algo clandestino comigo. Ou não.

Também não fiquei curioso com isso. Fiquei curioso com o que passou na cabeça dele hoje, ao me encontrar, para ir embora comigo, soltar na minha estação e me beijar na boca como se ainda estivesse sob o efeito do álcool de 2005.

Não falei uma palavra.

Virei as costas e fui embora, me assegurando que não havia ninguém na rua. Cheguei em casa, arrumei minhas coisas para amanhã e tomei um banho. Quando estava saindo do banho, meu telefone tocou e era ele, o menino do beijo mais lindo da minha vida.

Dizendo que queria me ver amanhã. Sei lá porque cargas d’água marquei com ele às 20:00h no sexto andar da universidade, na biblioteca de Matemática. Sei que não vou, estava consciente de que amanhã iria faltar aula, nem ponho o pé na faculdade. Dia de festa, chopada da vida, a primeira.

Talvez eu queira castigá-lo, vingança. Talvez eu seja louco e esteja desperdiçando o melhor momento da minha vida.

Ouvindo: Wake me up when september ends - Greenday

7 críticas:

Anônimo disse...

por favor nao me diz que vc fez isso... marca com ele e nao vai?!
puta sacanagem hein.
manda um torpedo, um aviso, sinal de fumaça avisando que amanhã nao vai dar e que outro dia vcs se falam. nao é legal se vingar assim dos outros(esquece o meu caso da lanchonete hehehe).
mas serio, faz isso com ele nao po, se vc nao quer ir é só nao marcar!
faça o que achar melhor, mas pensa bem sobre isso..

Nadezhda disse...

Talvez você seja louco e esteja desperdiçando o melhor momento da sua vida.

Se eu fosse você, eu ia. Nem que fosse pra terminar qualquer coisa antes mesmo de começa-la.

(Falo isso porque já deixei passar chances demais que hoje me arrependo).

;)

Leo disse...

Que isso cara! Você TEM que ir! Imagino o ódio que você deve ter sentido dele nesses anos todos! Mas tenta pensar em como isso deve ter sido difícil pra ele! Com certeza deve ter passado anos reprimindo o beijo dentro dele! E deve ter precisado de muuuita coragem pra fazer o que ele fez!
E daí que ele te veja como alguém sem problemas e super resolvido. Provavelmente você é mais bem resolvido do que ele.
Mesmo que não dê em nada. Mesmo que ele não termine com a namorada! Vai ser bom pra você ver que existem outros. Outros que podem te dar valor! Não perca essa oportunidade!

Râzi disse...

Ah, menino de Copa! Eu fico suspirando com seus posts, sabia???

Vc tem um jeito de escrever que me enternece!!!

E sinceramente, eu iria!!! Vc deve ser muito calculista, se conseguir não ir! Eu não seria capaz! A não ser que não quisesse nada! Mas ai, eu nem teria marcado!

Beijão!

Línguas Ferinas! disse...

Oie...

Não vou te dar nenhum conselhoa é sua e qm deve tomar a decisão é vc.
E pelo q parece já a tomou.
Desculpa,n consigo...rs
Só uma sugestão.Se ele te faz sentir tão bem,se faz c/ q vc sinta sensação antes n experimentadas e por tanto tempo esperadas.O q importa se tds vão saber ou não?Acho q a gnt deveria pensar mais no q é melhor p/ a gnt e parar de fikr pensando em certos convencionalismos.Não to falando do fato de ter sido um ato homosexual,mas de a gnt fikr esperando q sempre tds concordem ou aceitem as nossas decisões.Q se danem a vida é nossa.Curta as coisas um pouco.Se vc ver mais lá p/ frente q é algo q n te faz bem ou q n tem mais o pq de continuar temrina.Mais é melhor vc saber no q deu do q fikr a vida td sonhando com isso,com o q poderia ter sido...

Beijão!

Srta Ackles!

PS:espero n ter me metido demais! =D

Mari disse...

Do que vc tem medo?? porque não acho que não é um castigo pra ele, e sim um medo seu...

Não perca as chances que vida da´pra gente ser feliz!!!


bjooo

Rafael disse...

Nossa! Não sei o que está passando por sua cabeça! Sei que quando escrevemos aqui por mais detalhes que damos às vezes não colocamos algo que é realmente nosso, só nosso! Fica a critério seu se vai ou não! Ainda a tempo! Eu iria! mesmo que você nem tenha pedido opinião dos críticos.. rs