Mofo 2

Rio de Janeiro, dezembro de 2003

Querida senhora ******,

Não me esquecerei nunca da vez que entrei naquela sala repleta de livros, uma mulher sentada, sempre atenciosa às necessidades de todos. Você. Em mim, uma cautela de como chegar, uma ridícula mágoa de anos atrás, quando achava que não me aprovava como pessoa.

O tempo é o melhor remédio e ele só me fez perceber que agia como um tolo, um infantil, um retardado. Confesso que me vangloriei intimamente quando disse que gostava dos meus modos ousados, sempre questionando, liderando, sendo amado e odiado.

Tornou-se insuportável passar sequer uma terça ou quarta-feira sem sua presença, sem sua conversa, sua risada, suas histórias... sem matar aula de educação física, mas... eu não pude fazer nada, infelizmente.

Poder desabafar com alguém experiente, mas também disposta a sempre aprender, dividir minhas desilusões, ilusões, decepções com alguém que não é minha mãe (por mais que eu a ame, era confuso). Poder conhecer sua família sem nem ao menos vê-los, mostrar-me como sou por dentro, ouvir o conto do rapaz do CD e me lembrar sempre dele, colocando-me sempre no lugar dele, sofrendo com o sofrimento dele.

Não foram só momentos, foram experiências vividas em uma sala de leitura, vividas nas suas histórias de vida, no seu sorriso. Foram vezes em que absorvi pensamentos, quando aprendi que “Só sei que nada sei”.

E agora, lamento por saber que não mais viverei tais momentos com a freqüência que os vivo agora. Conto com o destino, de que tanto entende para que possa me ver vencendo, me ver amando, me ver sorrindo; e que eu possa ver-te tão feliz quanto eu vou estar. E conto com o mesmo destino para que possa ser minha eterna professora, aprendendo não só com os livros em uma sala de leitura, mas também com a vida.

Um abraço apertado,
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