Celular

domingo, 24 de agosto de 2008
Artesanato de Antonio de Castro

Desde o meu aniversário eu e meus amigos havíamos combinado um programa seguinte. Show de rock. Iríamos aproveitar um mini-festival de rock que estava previsto para acontecer dia 23 de agosto aqui no Rio. Rock Arena, com shows se Capital Inicial, Pitty, Charlie Brown Jr. e CPM 22. Nada que eu confesse que goste, mas o evento em si seria legal para reencontrá-los e valeria a pena.

Enfim, ontem me desloquei da minha casa até o Estádio de futebol do Engenhão só para ver esse bendito show. A chuva já tinha estado bem forte, mas Às quatro da tarde as coisas já estavam bem. Não tão bem para a produção do show.

Quando chegamos, eu e meus amigos, no estádio, lá estava aquela maldita faixa informando que o show havia sido adiado para o fim de setembro devido ao mal tempo no Rio de Janeiro. E o meu único programa de ontem estava arruinado antes mesmo de começar.

Fomos ao shopping mais próximo e ficamos por um tempo lá rindo da nossa desgraça. Um show adiado. Conversamos, encontramos os pais de uma amiga mais afastada, a que algumas vezes já me lamentei aqui do quanto não se importa com todos nós. Ficamos um tempo conversando com os pais dela até que ela decidiu ir nos encontrar lá no shopping também.

Foi a certeza de que a amizade havia se extinguido. Não existia mais química entre o nós. Ela não fazia mais parte daquele que será o meu grupo até o fim da minha vida.

A noite caiu e logo estávamos seguindo para a balada. Não tínhamos destino. Pela primeira vez na minha vida um programa tinha dado tão errado e tão certo ao mesmo tempo. Fomos todos para o centro da cidade. Boate do centro é certeza de música boa.

As meninas reclamavam um pouco porque estavam arrumadas para um show de rock, que era sinônimo de tênis e calça jeans, mas o que queríamos era vingar aquele fiasco daquele sábado nojento.

Dancei até que a última gota de suor caísse da minha testa, até que todos os poros da minha pele tivessem transpirado, até que não houvesse uma parte sequer da minha camiseta que não estivesse encharcada.

E me hidratava, com aquele que era o elixir de quem queria curtir o sábado à noite: caipvodka de kiwi. Nunca bebi tanta caipvodka assim e depois fiz tantos telefonemas.

Liguei para meu colega da faculdade, o que me beijou na outra noitada, o que foi atrás de mim no meu aniversário. Falei para meia dúzia de coisas que preferia ter esquecido. Falei que ele devia ser um pouco mais corajoso, que não bastava só ter me beijado naquele dia que estava bêbado e que se só faria algo sob o efeito do álcool, devia ter bebido de novo da segunda vez que saímos.

Liguei para o menino que me beijou na rua, aquela novela que começou, sei lá, há quatro anos atrás e que até agora ainda não acabou. Falei para ele que já houve o dia em que eu o amava, que só o que eu queria era estar do lado dele, abraçar ele e beijar a boca dele. Sentir seu corpo junto do meu e poder fazer qualquer coisa sem o medo de ele achar que eu era gay, porque eu era gay. Falei sobre o quanto eu fiquei triste quando ele me beijou na festa da escola e depois beijou outra menina na mesma festa, sobre o quanto sofri com o namoro dele na escola e o quanto sofri agora quando ele vinha me procurar, decidiu ficar comigo de verdade e depois postava fotos no Orkut com a namorada dele que eu sabia que tinha várias espinhas no rosto. E ri, o que deve ter sido um riso bem alucinado. E desliguei na cara dele.

Liguei para a menina com quem perdi a virgindade. Falei o quanto ela era pobre e não ia a lugar nenhum se divertir e o quanto éramos diferentes. Não deixava de ser verdade, tanto eu quanto ela sabíamos que não combinávamos mais, mas não havia necessidade de falar com ela daquele jeito duas semanas depois de ela ter me mandado duas mensagens nos primeiros minutos do meu aniversário, dizendo que me amava, mensagens essas que até hoje não agradeci.

Não lembro o que ela falou, mas deve ter sido algo bem grave, porque depois dessa ligação eu abracei minha amiga que estava comigo e chorei por mais ou menos quinze minutos. Foi a única hora que parei de dançar. Só fiquei ali abraçado a ela, no meio da pista de dança, debaixo das luzes verdes, chorando pela minha droga de vida.

Só sei que comecei a cantar músicas da Pitty em indignação pelo show cancelado, no meio da pista, passando um papel de idiota que eu não passaria se não tivesse ingerido quantidades tão grandes de álcool. Pensava em outros números para ligar, outras pessoas para infernizar.

Liguei para o menino novo na faculdade, um que tem namorada, está na minha aula de cálculo, com quem almoço todos os dias no shopping mesmo não tendo dinheiro para comer no shopping todos os dias. Não falei nada, só deixei ele ouvir a minha respiração e a música alta que tocava na boate. E fiquei escutando a voz delicada dele dizendo alô. Pensando no quanto eu queria que ele fosse homossexual.

Depois liguei para meu amigo hetero. Esse nem me atendeu. Comecei a chorar de novo. Meus amigos começaram a me perguntar por que eu chorava tanto. Eu não lhes respondi. Só chorei. Esse aí era caso perdido. Ele estava em sue último mês trabalhando conosco, cumprindo aquele maldito aviso de demissão. E as últimas semanas foram as nossas semanas mais distantes desde que voltamos a nos falar, há uns oito meses atrás. Ele não me procura mais, não me liga, não vai na minha sala. Ele fica com raiva quando eu digo na cara dele que ele não se comporta mais como meu amigo, ele se lamenta com as pessoas dizendo que é meu amigo e que está triste comigo pelas coisas que eu disse na sua cara. Mas ele não muda. Eu ligo para ele, está certo que era só para infernizar, mas nem assim ele atende.

Queria ligar para o meu ex-namorado, mas dessa vez caiu sobre mim um pingo que fosse de senso de ridículo. Além das coisas não estarem bem entre a gente, como vem sendo desde que nós terminamos e ele saiu de férias e depois voltou e tal... agora ainda tinha essa história do problema com a mãe dele. não tinha sentido eu ligar para ele para ficar enchendo o saco dele com meu porre sabor kiwi e isso eu tive consciência mesmo naquelas condições, às quatro e meia da manhã.

Queria ligar para outras pessoas, outras que nem o número eu tenho, das quais eu nunca senti o hálito, nunca senti o cheiro da pele. Pessoas que eu nuca ouvi a voz, pessoas de internet, que me lêem, mas que estão a horas da minha casa, que estava a horas daquela boate, daquela noite carioca mais que inesperada. Pessoas que nem lembram de mim, que só pensam nas vidas reais que levam, enquanto eu acho que essa vida que se desenrola na frente do monitor do meu computador é parte da minha vida real, quando na verdade não é. Queria ligar para ouvir a voz dele, queria ligar para chorar e dizer o quanto eu queria ter tido a oportunidade de conhecê-lo pelas vias normais para que eu pudesse ter a chance de ser feliz ao seu lado um dia.

Liguei para os dois que encontrei, os dois caras de internet que chegaram a trocar número comigo, que me encontraram e fizeram de mim gato e sapato. Liguei e falei o quanto um deles era feio e velho e que eu nuca teria prazer nenhum em transar com ele e que foi por isso que eu não me soltei, que foi por isso que eu não achei graça quando ele apertou a minha bunda no metrô naquele dia, e que assuntos relacionados a religião não me deixavam exatamente excitado. Depois foi a vez do que teve até a chance de transar comigo, o que depois marcou de novo e não apareceu e me deixou plantado na estação de metrô esperando. Contei para ele o quanto ele não me levou a lugar nenhum e que eu tive de pensar num amigo meu para poder fazer alguma cara de tesão enquanto estava chupando seu pau fino e pequeno. Disse também que piru sem pêlos não me excitam. O dele parecia o piru do meu primo de cinco anos: pequeno, fino e careca, era broxante.

Eu sei que eu não devia ter feito um texto desse tamanho, nem me aberto tanto em um lugar tão público, mas era necessário. O meu sábado já começou mal, o meu domingo foi horrível, uma dor de cabeça sem igual toma conta de mim e agora eu nem sei o que dizer ara as pessoas que são um pouco importantes para mim e que eu magoei falando coisas que eu não queria falar, principalmente bêbado.

Como seria com a menina com quem eu perdi a virgindade? Ela não deve nem estar querendo ver minha cara pintada. Mai do que nunca eu devo um telefonema a ela para me explicar e me desculpar. Como seria com o menino do segundo grau? Depois de ter dito a ele o quanto ele era importante para mim. Como seria com o menino da faculdade que me beijou na noitada? A essa altura ele já estaria se perguntando se tinha mesmo feito tudo o que eu disse que fez, já que ele disse que não se lembrava de nada que fez no dia anterior daquela vez, mas lá estava ele comigo na Mariuzinn um mês depois.

Agora é só esperar a do de cabeça passar e começar a imaginar o que acontecerá quando encontrar cada uma dessas pessoas que infernizei a noite de sábado, que foi a pior noite de todas da minha vida.

Ouvindo: Understand – Christina Aguilera

6 críticas:

Nadezhda disse...

Eu já tive vontade de ligar pra várias pessoas e fazer o que fez. mas todas merecem. mas não consegui.

Não conheço você direito, nem essas pessoas, mas acho que a única coisa 'errada' foi ter ligado pra menina.

Mas não sei. Você que sabe.

Aquele meu psoto foi escrito depois de um sonho que tive mesmo ;)

FOXX disse...

gente
vc é um perigo com um celular na mão
aff!

Râzi disse...

Desculpa, mas enquanto eu lia seu post, algo veio à minha mente...

"Ele reclama da vida, mas parece que ele procura!"

Meu querido, nem julgar e nem aconselhar... vc é uma pessoa, que pelo que vi, tem discernimento...

Use-o...

Beijão!

Kamilla Barcelos disse...

Que azar!! Lei de Murphy agindo em relação ao show.
"Dancei até que a última gota de suor caísse da minha testa, até que todos os poros da minha pele tivessem transpirado, até que não houvesse uma parte sequer da minha camiseta que não estivesse encharcada." Essa frase ficou ótima!
Vc gastou mto dinheiro com cel nessa noite, hein?Essa coisa de ligar quando está alcoolizado não é boa! É do tipo q o alcool entra e a verdade sai!
Eu sei como é qdo a gente tem a necessidade de gritar para o mundo o que a gente realmente pensa!

Goiano disse...

ok pequeno gafanhoto... vc aprendeu uma liçao muito importante:
se estiver em estado semi alcoolico (or whatever) fique longe do celular ahuuhauhauha

eu estou numa outra fase
me mantenho longe agora ate da internet

Mari disse...

Agora sim peguei o bonde certo...rsrs!!! Eu decidi pelo bem de todos que um dia fizeram parte da minha vida amorosa, e pelo meu proprio bem, nunca, mas nunca mesmo, sair com o celular...sei exatamente o que sentiu, na hora é uma sensação indescritivel, mas depois, a ressaca moral 100x maior que a fisica!!!