Sobre o que não sei falar da semana

sábado, 2 de maio de 2009
Artesanato de Antonio de Castro

Meu telefone vibra e eu atendo
- Oi.
- Oi. Sabe quem tá falando?
- Claro, apareceu seu número aqui. Já chegou de Goiás?
- Vou chegar amanhã.
- Legal.
- Então, te liguei pra ver se você quer fazer alguma coisa na véspera do feriado.
- Eu vou num show beneficente, sobre reciclagem de lixo.
- Vai ter gente legal?
- Vai. Quer ir?
- Que horas?
- Eu devo sair da faculdade umas oito e meia, devo chegar lá no Vivo Rio umas nove, eu acho.
- Gostei.
- Você tem que me esperar, porque eu tenho um convite sobrando.
- Então é um convite?
- Ué, é. De lá a gente deve ir pro Circo. Eu Amo Baile Funk de véspera de feriado.
- Posso ir com vocês?
- É um outro convite meu. Você deve ir.
- Quando eu chegar, eu te ligo.
- Vou esperar, hein?
- Pode esperar.
Eu não fui no Eu Amo Baile Funk e ele não me ligou.
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Quarta-feira também recebi uma ligação estranha no metrô, indo para a faculdade. Estava eu estudando, mp4 no ouvido, quando o celular toca e eu atendo. Algo irreconhecível foi falado do outro lado. Eu perguntei “O que?!”. A pessoa disse novamente e dessa vez eu entendi: “Você está triste, né?”. Eu, desprevenido com um telefonema de um desconhecido e assustado com a frase, insisti: “Alô?!”. E a resposta foi a mesma frase: “Você está triste, né?”.

É, eu estou triste.
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Terça-feira fui à Ilha do Fundão pegar meu cartão do banco e aproveitei para comprar um livro que precisava para faculdade. Saí do Banco do Brasil no prédio de Letras e fui para o Centro de Tecnologia, onde uma amiga tinha comentado comigo que comprara o livro por um preço bem barato.

Encontrei minha amiga, comprei o tal livro e voltamos para o laboratório onde ela trabalha para esperar dar a hora de irmos para a UERJ. No caminho de volta para o laboratório, encontramos o garoto que eu queria fazer amizade no Monobloco. Ele nos parou, perguntou que horas iríamos para a UERJ, pois também estava indo para lá.

Ela fez o que tinha para fazer do trabalho dela e fomos para a UERJ nós três. Ele sentou ao meu lado no ônibus e ficou falando sobre o ex-namorado médico com quem ficara por três anos e por quem sofria agora. Falou sobre o porta-cotonete dele, que ganhara em uma visita da Johnson and Johnson na faculdade. Falou sobre a pomada com filtro solar que ele usava para não clarear o cabelo. Falou sobre o que fez para entrar de VIP no penúltimo show da Preta Gil na The Week.

Sei que eu cansei dele, bateu uma homofobia sem igual em cima de mim, porque ele era muito gay e fazia questão de mostrar isso. Minha vontade era virar para ele e dizer: Querido, eu também sou gay, comigo você não precisa forçar nada para assustar! Você não me assusta. Você tá é me enchendo o saco.

Mas não disse, no fim da noite, tive aula de Cálculo 2. Já fui para sala pensando como seria aturar ele por mais duas horas, já que ele estava na mesma turma que eu. Mas quando cheguei lá não o encontrei.

A aula estava difícil e em determinado momento eu estava completamente perdido, tentando entender substituição trigonométrica como método de integração. Mesmo sem lembrar a integral de nenhuma função trigonométrica.

Minha cara deve ter expressado minha raiva por não estar entendendo, pois a professora, uma moça jovem e metida a engraçadinha, parou a aula e perguntou porque eu estava com cara de mau.

Eu fiquei calado e dei de ombros. Ela perguntou se eu estava com saudades do meu amiguinho loirinho (o tal garoto chato que aturei na ida para a UERJ). A turma começou a comentar. Eu disse que não. Ela perguntou se eu tinha certeza que não era saudade, que semana que vem ele iria assistir aula e que eu poderia colocar então um sorriso no rosto.

As pessoas riram.

Eu disse que estava perdido. Que não tinha aprendido substituição trigonométrica. Não tinha aprendido integral definida. E que ela estava misturando justamente as duas coisas num só exercício e resolvendo como se todo mundo soubesse fazer. E eu não sabia. E estava perdido e com raiva. Porque é assim como eu me sinto quando estou numa aula onde não entendo nada que a professora resolve e não recebo a devida atenção.

Não, eu não estou com saudade do meu amiguinho loirinho, porque ele sequer é meu amigo.

A sala ficou em silêncio e ela explicou tudo de novo, me dando atenção. Mas na minha cabeça só estava aquela sensação. Estou sendo descoberto. Estou sendo considerado um gay super-bem-resolvido. E ainda falta tanto pra eu me bem-resolver...
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Na quinta-feira, antes de saber que ia para a Noite Preta, que faria amizade com dezenas de gays engraçadíssimos e lindos, à tardinha, saí para caminhar na Tijuca com uma amiga. Entre os estudos da tarde e a aula que teria a noite.

Lanchamos, andamos, conversamos e entramos na Lojas Americanas. Default, entrei direto na sessão de DVDs em promoção. Comprei três: Orgulho e Preconceito, Cold Mountain e O Diário de Bridget Jones.

Não assisti o último, nem gosto tanto e já vi tantas vezes. Foi mais um presente para a minha mãe que é uma viciada inveterada da Bridget.

Hoje de manhã acordei e fui direto ao Cold Mountain, chorei de soluçar na cena em que Inman e Ada se reencontram. Pensando como minha vida seria e está sendo diferente dos filmes que me emocionam. Eu não passo de um romântico que acredita que o amor impossível existe. Mas de repente caiu a ficha que não haverá amor algum para mim. Possível ou impossível.

Aproveitando a onda, assisti em seguida Orgulho e Preconceito. Pela décima segunda vez. E cheguei a uma só conclusão: eu preciso de um Mr Darcy.

5 críticas:

Arsênico disse...

Que semana heim... agitadíssima...

adorei a resposta que deu à professora... além de deixá-la sem graça... ainda a chamou de incompetente... parabéns...

eu tb odeio vyados que adoram dar pinta forçando uma situciÓn...

***

Rapha disse...

Concordo em tudo com o comentário acima. Relamente odeio professores engraçadinhos... Enfim...

Mas e o lance do menino da viagem? Você ficou triste, mas ele explicou porque não retornou a ligação? Tem que haver algo mais.

Latinha disse...

Adoro Orgulho e Preconceito... alias, o sotaque, a paixão contida, os olhares... muito lindo! Cof cof cof... e o Mr. Darcy! ;-)

E fiote... bora comprar uma plantinha, eu ando conversando horas com a minha! Um dia eu ainda descobro o segredo dela!

Abração e boa semana!

Latinha disse...

Eu paguei a língua... falava mal de Sandy & Jr... mas eis que um belo dia um "cavaleiro andante" me mandou uma musica deles... e desde então.. tive que engolir a língua e a boca grande... kkkk

Abração!

Rafa disse...

Que vaca escrota esta professora! Babaca! Força pra vc aí. Bj