O Grande Amor

domingo, 2 de agosto de 2009
Artesanato de Antonio de Castro

Eu costumava sonhar com alguém legal, eu conheceria assim, por acaso, uma amiga me apresentaria, a gente sentiria uma empatia instantânea. Trocaríamos números de celulares, depois perfis de Orkut e MSN. Passaríamos horas conversando na internet, até que a conexão caísse. Aí eu ligaria par ele, ou ele me ligaria e os créditos iriam acabar. Mas não antes que trocássemos números de casa. Eu ligaria pra casa dele ou ele pra minha e ficaríamos o resto da madrugada conversando.

Ele gostava de música POP e de rock hard core, enquanto eu costumava ouvir MPB FM. Ele faria jornalismo e seria super experiente. Teria um passado vasto, eu teria até ciúme dele, dos ex-namorados, mas ele me faria sentir único. Ele assiste televisão até tarde, eu critico e falo que não tem nada que preste na televisão. Ele, como estudante de comunicação, discorda de mim e acha que a televisão só tende a melhorar.

Eu não sei nada das notícias, nada sobre política, nada sobre filosofia. Ele me ensinava, do mesmo jeito que me fazia ouvir Simple Plan e Greenday de novo. Eu já sabia de cor o novo cd da Lady Gaga e ele aos poucos conhecia Los Hermanos e Maria Rita. Nós iríamos ao show, dançaríamos e no fim da música mais linda nos beijaríamos sem ligar pro resto do público ao nosso redor.

Aquela se tornaria a música preferida dele, enquanto a minha seria a música que ele colocou pra tocar na primeira vez que nós dormimos juntos. Depois a gente comeu fruta, eu nem gosto de fruta, mas ele é tão saudável. E ficamos abraçados o resto da noite, sentindo um a respiração do outro. Até amanhecer, nos amaríamos algumas vezes, do jeito mais puro e bonito.

Ele seria carinhoso e me ensinaria coisas novas, eu ficaria com ciúme por lembrar que aquelas coisas ele aprendera com os outros namorados. Mas o ciúme passava de novo porque ele me fazia sentir único. De manhã iríamos tomar café na sala da casa dele e depois eu iria embora, com o sentimento de felicidade tomando conta de mim. Antes de eu chegar em casa, eu mandaria uma mensagem bonitinha pra ele e menos de cinco minutos depois ele me responderia dizendo que estava sentindo meu cheiro no travesseiro dele e que aquela saudade que ele estava sentindo não era justa.

Ele me ligaria pela manhã todos os dias e eu ligaria pra ele depois do almoço. Religiosamente. Tirando, é claro, os dias em que estaríamos brigados. Nesses dias eu ia esperar até as cinco da tarde e combinaríamos um encontro no meio da semana. Ou ele me mandaria uma mensagem antes do almoço dizendo que me amava. Dormiríamos juntos naquela noite de reconciliação e eu iria trabalhar no dia seguinte com a mesma roupa.

Iríamos ao cinema todos os domingos, ali na Estação Ipanema ou em Botafogo. Eu não costumava assistir aos filmes que ele assistia, mas sempre tivera curiosidade. Depois passávamos na casa dele, onde ele colocaria um pouco de vinho pra mim, porque ele sabe que eu adoro vinho seco. Eu brincava dizendo que ele queria me embebedar, ele concordava rindo e me pegava no braço, esquecendo que a mãe dele estava no andar de baixo vendo televisão. Estava passando Fantástico.

Eu ia pra casa, dormia, mas não sem antes receber um toque no celular com o número dele, nós combinávamos que aquilo significava que um amava o outro, pra dias que o crédito já estava no fim, fim de mês talvez. Na segunda a semana continuava. As brigas eram pelo mesmo motivo: ele e os ex-namorados ou eu e as festas de amigos. Eu era ciumento com o passado e ele era ciumento com as farrinhas. Mas era um ciúme controlado, das duas partes.

Eu nunca mais entraria no chat, e postaria coisas lindas no blog sobre ele. Ele saberia do blog quando a gente estivesse junto há uns seis meses e ficaria super curioso para ler. Nessa altura do campeonato eu nem escreveria tanto assim, como todos os blogayros que arranjam namorados, mas continuaria a conversar no MSN com os amigos que fiz.

Às vezes, sem querer, comentaria de um desses amigos com ele. E ele morria de ciúme dos meus amigos da internet, ele sempre criticava quando eu falava sobre isso, até conhecer um deles e se tornar amigo também. E a vida seguiria a diante. Ele se formaria, eu iria na formatura. Eu ai conhecer a família dele, ele a minha. Somos amigos nessas ocasiões.

Um dia decidiríamos contar sobre a gente. Era tanto amor que não fazia sentido esconder. Eu descubro que a família dele já sabe há muito tempo, conto pra minha mãe e ela sofre, como era de se esperar, mas ela já gostava tanto dele e ela vê que ele me faz tão feliz. Ainda assim continua orando pra mim na igreja, pedindo ajuda dos fiéis para que todos entrem em propósito pra salvar minha alma.

Minha alma está tão leve que nem se ofende com isso, oração em meu benefício nunca é demais. E quanto mais o tempo passa, mais a gente se diverte, eu e ele. Nossos amigos já se acostumaram, pelo menos os que importam, saímos para os mesmos lugares e passamos fins de semana inteiros assistindo aos filmes que ele tem no computador.

Ele me fala do novo emprego, eu das últimas provas do semestre. Almoçamos juntos de vez em quando, ele chega atrasado na empresa, eu saio mais cedo do estágio. A gente engorda e emagrece ao contrário. Quando ele está acima do peso, eu dou uma emagrecida e vice-versa. Comemos comida japonesa toda sexta-feira, mesmo ele odiando. E eu aceito comer crepe todo domingo, mesmo já tendo enjoado há muito tempo daquilo.

Eu costumava perder tanto tempo com isso. Agora parece que eu não tenho mais espaço pra isso. Eu não só sonhava, como eu também pregava esse futuro. Era algo a que todos tinham direito. Era a tal felicidade, o tal bem natural da música do MPB4 (ouçam Cicatrizes).

Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito, exijo respeito, não sou mais um sonhador. Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor e dou risada do grande amor.


Ouvindo: Samba do Grande Amor – Chico Buarque

12 críticas:

A.M.B disse...

nem sempre eh assim neh,

mas guri tem uma coisa q aprendi:

vc soh encontra alguem interessante qndo nao a estiver procurando.

bom, pelo menos assim eh comigo.

otimo domingo!!!!

se cuida,
abracaooooooo!

BinhoSampa disse...

todos queremos um amor impossível! sempre desejamos o mais dificil!
E só encontramos o grande amor quando menos esperamos, sem a idealização.

Abs:-)

Pollyanna disse...

Tive que respirar bem fundo... sabe que eu tbm sonhei com algo perfeito assim?
Mas acho que nao existe..

Rapha disse...

Sonhar é legal... O pior é quando você consegue o seu sonho e depois ele é tirado de você. Ou pior, quando o seu próprio sonho te deixa... Vai embora... Deixando apenas dolorosas boas lembranças...

Acredito que o seu sonho esteja mais terdo do que eu vivi do que qualquer outra coisa que tenham me dito ou eu tenha lido.

Bjs

Marcelo Novais disse...

Todos nós queremos um amor assim!
Eh barrs msm


Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito, exijo respeito, não sou mais um sonhador. Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor e dou risada do grande amor.

sem comentários a parte mais PERFEITA do texto!
Ameiiiiiiiiii!

O Gato de Cheshire disse...

Olha.. Só vou deixar umr esgistro que vim aki, li, achei bonitinho... N vou comentar n que eu sou muito azedo pra uma postagem romantica dessas... hauahauahau

Vc é um fofo!!!!

Guy Franco disse...

Ah não, muita coisa presta na televisão.
Engraçado, começou a tocar uma música do nada no seu blog.

Fabiano (LicoSp) disse...

Eu acho que você não deveria perder este encanto e desejo de uma relação assim...

pode ser que não aconteça 100% de tudo q deseja, mas se acontecer 10% que seja, você já pode se considerar muito feliz e amado.

bjss

Arsênico disse...

Porque a vida nos faz isso?... Depois de tantas esperanças e sonhos... ela puxa nosso tapete... e mostra que o mundo real não é nada disso... a não ser para apenas alguns... que não sei porque... merecem mais que nós...

É a vida quiridjo... console-se!

***

umBeijo!

Atreyu disse...

Não procurei, mas nem precisei! Acho que quando é pra ser é!!!
Já sou feliz faz 1 ano e meio o/*

Marcelo Novais disse...

Olha eu aki de novo! =D
soH de passage msm kra
Eu adoro seu blog!
Fuiz!

Mauri Boffil disse...

seu texto me deu uma nostalgia enorme... eu tb sonhava com alguem especial...